Fazenda da Esperança
Na entrada da fazenda existe uma grande placa que evidencia a ideia do lugar: dar esperança a outras pessoas.
A primeira sala, das muitas existentes no prédio, é de Maria Cecília, paulistana que há 25 anos, juntamente com seu marido, Valdir Gonçalves, se dedica a uma causa nobre: a recuperação de dependentes químicos no projeto Fazenda da Esperança.
Cecília é uma mulher simpática, que de dez palavras pronunciadas, intercala um "graças a Deus". Está no lugar há oito anos, quando resolveu desenvolver a ideia no Estado, recebendo a doação da localidade pelos Salesianos. "Quando chegamos aqui, encontramos as salas com mato, sujeira e a estrutura não estava boa. Juntamos alguns colaboradores e começamos a obra, com muita fé e coragem", fala, passando a mão no rosto e dizendo-se feliz "com a visita do jornal".
Tudo é muito organizado. A sala onde funciona a recepção, a divisão dos trabalhos, as alas onde ficam a capela - com um Jesus Crucificado - e as demais dependências, como a cozinha e a oficina. "Eles estão reformando uma estante para a biblioteca", diz. "Durante o dia fazemos as reflexões e depois eles vão ao trabalho, cada um desenvolvendo uma atividade, colhendo madeira para cozinhar em banho-maria as castanhas de caju; enquanto outro cuida da horta, um faz os pães e outro trabalha como pedreiro. Cada um desenvolve aqui seu dom particular e todos se ajudam", revela.
Essa é uma grande verdade. Na horta, por exemplo, é um interno quem planta, rega e cuida das hortaliças. Ibelonato Dias está na fazenda há quatro meses. Tem três filhos e muitas saudades. "Lá fora, no caminho em que andava, cheguei ao fundo do poço", revela, enquanto ara um pedaço de terra onde plantará alface. "Aqui não apenas encontrei um caminho de paz, de acolhimento, mas também a cura para a minha alma", fala, emocionado, mostrando o fruto de seu trabalho. "Todos os dias sinto saudades de minha família, mas eles compreendem o esforço que estou fazendo e minha luta para sair daqui melhor", comenta.
Criativo, Ibelonato passa as manhãs recuperando o terreno - um pouco difícil de cultivar devido a fatores climáticos - e colhendo hortaliças. "Aqui, além do caju, outra fruta que dá bastante é a acerola", frisa, mostrando a produção sempre crescente, e que se estende por uma boa parte do terreno reservado para o cultivo, ao lado de alguns dormitórios, onde os primeiros internos passam a fase inicial do processo de recuperação, que consiste em quatro: acolhimento, caminhar, abstinência e responsabilidades, fase em que o trabalho em equipe é um dos principais fatores.
UMA OBRA FILANTRÓPICA - Com mais de 100 hectares, a Fazenda da Esperança é considerada uma obra filantrópica, com estreita ligação com a Igreja Católica, recebendo, inclusive, padres para celebrações e acompanhamento do bispo.
Todas as orientações concernentes à religião são norteadas pela filosofia católica, mas Maria Cecília acrescenta que a entidade recebe qualquer pessoa que necessite de seus serviços e de internação. "Seja protestante, ou de outra fé. O nosso objetivo é recuperar essas pessoas através do amor. Só o amor, acredito, é capaz de fazer essa obra", fala, enquanto olha para um dos coordenadores e o aponta como um dos que ajudam a iniciativa. "Este é um exemplo de que o amor recupera as pessoas e dá novas esperanças", diz.
A Fazenda da Esperança não tem vínculos com qualquer tipo de grupo político. Poucos, também, são os representantes públicos que visitam o lugar. "Quase não os recebemos aqui. A prefeita Fafá Rosado foi dos poucos políticos que vieram. Ficou emocionada com o projeto e doou uma geladeira, uma mesa de ping-pong e um bebedouro. Foi um gesto muito nobre da parte dela", comenta, acrescentando que seria interessante um apoio do Estado, principalmente no que diz respeito a subsídios. A conta de energia da casa chega a R$ 1.800,00 e não há qualquer apoio no sentido de isentar o lugar da tarifa de energia elétrica.
A Fazenda da Esperança possui, hoje, 29 internos. Eles passam um ano em tratamento e depois, recuperados, voltam para o convívio da família e, alguns, ao trabalho que desempenhavam antes de entrar.
Beneficiamento do caju e produção do próprio alimento são ideias cultivadas em comum
Quase todos os produtos consumidos na Fazenda da Esperança são produzidos e beneficiados pelos próprios internos.
Dos mais de 100 hectares da propriedade, grande parte é cultivada com caju. Fruto popular na Serra do Mel e principal produto e meio de subsistência de muitas famílias do pequeno lugarejo, ele é aproveitado na fabricação artesanal de doce e beneficiamento da castanha. Há também a produção de biscoitos, pães, além da fabricação de polpas, que são armazenadas em freezers e consumidas durante as refeições. "Além da polpa de caju, fazemos polpa de acerola, muito farta devido ao clima. Mas em época de caju, todos os freezers chegam a ficar lotados", revela Gledson Fernandes, responsável pela fabricação das polpas.
FABRICANDO O PRÓPRIO PÃO - Com maquinário de uma padaria normal, a Fazenda tem um interno que sabe fazer pão. Romário Aldo diz que fabrica os pães de dois em dois dias. A produção é pouca, mas suficiente: são 90 pães. A produção é para consumo dos 29 internos. "Para mim foi um novo recomeço. Aqui me sinto bem e faço o que gosto", frisa Romário, enquanto brincamos com ele, testando seus conhecimentos acerca do nome: "Ele agora é deputado. Mas eu continuo fazendo pão e biscoito", fala, sorrindo e tirando do forno mais uma leva, resultado de seu trabalho.
Todos os produtos são colocados em uma cesta, que é repassada para a família do interno, a fim de que ela negocie. O resultado desse negócio sustentável retorna para a fazenda, com o objetivo de manter a estrutura. "Sabemos que é apenas simbólico", revela Maria Cecília, mas reconhecendo que muitos juntos são mais que um. "É uma forma autossustentável que encontramos", diz.
Na entrada da fazenda existe uma grande placa que evidencia a ideia do lugar: dar esperança a outras pessoas.
A primeira sala, das muitas existentes no prédio, é de Maria Cecília, paulistana que há 25 anos, juntamente com seu marido, Valdir Gonçalves, se dedica a uma causa nobre: a recuperação de dependentes químicos no projeto Fazenda da Esperança.
Cecília é uma mulher simpática, que de dez palavras pronunciadas, intercala um "graças a Deus". Está no lugar há oito anos, quando resolveu desenvolver a ideia no Estado, recebendo a doação da localidade pelos Salesianos. "Quando chegamos aqui, encontramos as salas com mato, sujeira e a estrutura não estava boa. Juntamos alguns colaboradores e começamos a obra, com muita fé e coragem", fala, passando a mão no rosto e dizendo-se feliz "com a visita do jornal".
Tudo é muito organizado. A sala onde funciona a recepção, a divisão dos trabalhos, as alas onde ficam a capela - com um Jesus Crucificado - e as demais dependências, como a cozinha e a oficina. "Eles estão reformando uma estante para a biblioteca", diz. "Durante o dia fazemos as reflexões e depois eles vão ao trabalho, cada um desenvolvendo uma atividade, colhendo madeira para cozinhar em banho-maria as castanhas de caju; enquanto outro cuida da horta, um faz os pães e outro trabalha como pedreiro. Cada um desenvolve aqui seu dom particular e todos se ajudam", revela.
Essa é uma grande verdade. Na horta, por exemplo, é um interno quem planta, rega e cuida das hortaliças. Ibelonato Dias está na fazenda há quatro meses. Tem três filhos e muitas saudades. "Lá fora, no caminho em que andava, cheguei ao fundo do poço", revela, enquanto ara um pedaço de terra onde plantará alface. "Aqui não apenas encontrei um caminho de paz, de acolhimento, mas também a cura para a minha alma", fala, emocionado, mostrando o fruto de seu trabalho. "Todos os dias sinto saudades de minha família, mas eles compreendem o esforço que estou fazendo e minha luta para sair daqui melhor", comenta.
Criativo, Ibelonato passa as manhãs recuperando o terreno - um pouco difícil de cultivar devido a fatores climáticos - e colhendo hortaliças. "Aqui, além do caju, outra fruta que dá bastante é a acerola", frisa, mostrando a produção sempre crescente, e que se estende por uma boa parte do terreno reservado para o cultivo, ao lado de alguns dormitórios, onde os primeiros internos passam a fase inicial do processo de recuperação, que consiste em quatro: acolhimento, caminhar, abstinência e responsabilidades, fase em que o trabalho em equipe é um dos principais fatores.
UMA OBRA FILANTRÓPICA - Com mais de 100 hectares, a Fazenda da Esperança é considerada uma obra filantrópica, com estreita ligação com a Igreja Católica, recebendo, inclusive, padres para celebrações e acompanhamento do bispo.
Todas as orientações concernentes à religião são norteadas pela filosofia católica, mas Maria Cecília acrescenta que a entidade recebe qualquer pessoa que necessite de seus serviços e de internação. "Seja protestante, ou de outra fé. O nosso objetivo é recuperar essas pessoas através do amor. Só o amor, acredito, é capaz de fazer essa obra", fala, enquanto olha para um dos coordenadores e o aponta como um dos que ajudam a iniciativa. "Este é um exemplo de que o amor recupera as pessoas e dá novas esperanças", diz.
A Fazenda da Esperança não tem vínculos com qualquer tipo de grupo político. Poucos, também, são os representantes públicos que visitam o lugar. "Quase não os recebemos aqui. A prefeita Fafá Rosado foi dos poucos políticos que vieram. Ficou emocionada com o projeto e doou uma geladeira, uma mesa de ping-pong e um bebedouro. Foi um gesto muito nobre da parte dela", comenta, acrescentando que seria interessante um apoio do Estado, principalmente no que diz respeito a subsídios. A conta de energia da casa chega a R$ 1.800,00 e não há qualquer apoio no sentido de isentar o lugar da tarifa de energia elétrica.
A Fazenda da Esperança possui, hoje, 29 internos. Eles passam um ano em tratamento e depois, recuperados, voltam para o convívio da família e, alguns, ao trabalho que desempenhavam antes de entrar.
Beneficiamento do caju e produção do próprio alimento são ideias cultivadas em comum
Quase todos os produtos consumidos na Fazenda da Esperança são produzidos e beneficiados pelos próprios internos.
Dos mais de 100 hectares da propriedade, grande parte é cultivada com caju. Fruto popular na Serra do Mel e principal produto e meio de subsistência de muitas famílias do pequeno lugarejo, ele é aproveitado na fabricação artesanal de doce e beneficiamento da castanha. Há também a produção de biscoitos, pães, além da fabricação de polpas, que são armazenadas em freezers e consumidas durante as refeições. "Além da polpa de caju, fazemos polpa de acerola, muito farta devido ao clima. Mas em época de caju, todos os freezers chegam a ficar lotados", revela Gledson Fernandes, responsável pela fabricação das polpas.
FABRICANDO O PRÓPRIO PÃO - Com maquinário de uma padaria normal, a Fazenda tem um interno que sabe fazer pão. Romário Aldo diz que fabrica os pães de dois em dois dias. A produção é pouca, mas suficiente: são 90 pães. A produção é para consumo dos 29 internos. "Para mim foi um novo recomeço. Aqui me sinto bem e faço o que gosto", frisa Romário, enquanto brincamos com ele, testando seus conhecimentos acerca do nome: "Ele agora é deputado. Mas eu continuo fazendo pão e biscoito", fala, sorrindo e tirando do forno mais uma leva, resultado de seu trabalho.
Todos os produtos são colocados em uma cesta, que é repassada para a família do interno, a fim de que ela negocie. O resultado desse negócio sustentável retorna para a fazenda, com o objetivo de manter a estrutura. "Sabemos que é apenas simbólico", revela Maria Cecília, mas reconhecendo que muitos juntos são mais que um. "É uma forma autossustentável que encontramos", diz.
Estado: Rio Grande do Norte
Cidade: Serra do Mel
Nome: Fazenda da Esperança Dom Bosco
Endereço: Vila Brasília
CEP: 59663-000
Telefone: Fax (84) 3334-0080/ 3334-0015
Email: serradomel.m@fazenda.org.br
Capacidade: 60 internos
Trabalhos: Produção de mel, castanha de caju, doces e rapadura de caju; padaria; produção de desinfetantes; artesanato.
Categoria: Masculina
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