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sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Questões sobre o Natal




Por que só Mateus e Lucas nos contam o nascimento de Cristo? O que significa que Maria de Nazaré é Mãe de Deus? Ainda: Jesus nasceu mesmo no dia 25 de dezembro?
Respostas a perguntas como essas foram dadas pelo biblista franciscano da França Frédéric Manns, que publicou um livro sobre os assim chamados “Evangelhos da Infância”. O título original do livro é “Que sait-on de Marie et de la nativité” (O que sabemos de Maria e do Natal – Bayard Presse, Paris 2006). O texto trata de questões históricas e exegéticas ligadas ao nascimento de Cristo. O autor, professor de Bíblia em Jerusalém, teve a brilhante ideia de terminar o livro com um capítulo conclusivo onde resume em 30 perguntas as principais questões e curiosidades sobre o evento que celebramos dia 25 de dezembro. Nesse artigo ‘roubamos’ um pedaço do capítulo conclusivo e publicamos aqui no site, com uma tradução nossa.

1. A narração sobre o nascimento de Cristo aparecem apenas em Mateus e Lucas. Por que não estão presentes em Marcos e João?
Os evangelhos são sobretudo o anúncio da “boa nova da salvação” que se manifestou na morte e ressurreição de Jesus. Não são biografias no sentido moderno do termo. Mateus, que escreve para os judeu-cristãos, conhecia as narrações da infância de Moisés que a Sinagoga meditava. Lucas, ou a sua fonte judeu-cristã, prefere seguir o modelo da infância de Samuel que dizia mais para ele. O Evangelho de Marcos deixa transparecer uma etapa precedente da tradição na qual as palavras e as ações de Jesus ainda não eram transmitidas com uma narração organizada. O Evangelho de João, provavelmente por causa da sua profunda teologia e a linguagem simbólica, não tem espaço para uma reflexão sobre a infância de Jesus. Apenas Mateus e Lucas acrescentaram uma introdução que normalmente se chama “evangelho da infância”. O escândalo de um Deus que tinha sofrido transparecia já durante a sua infância, que invoca a rejeição do menino Deus por parte das autoridades e a sua aceitação por parte dos pobres. Os pintores dos ícones, que têm idéias geniais, representam a manjedoura e o túmulo do mesmo modo. Não é possível sublinhar de modo mais original esta inclusão na história da salvação. Mateus e Lucas quiseram dar uma resposta ao problema do nascimento do Messias, que não nasceu de José, filho de Davi. Eles vêem na origem de Cristo uma nova criação e a inauguração dos tempos escatológicos anunciados pelos profetas. O Espírito de Deus se faz presente em Jesus, princípio da criação nova.


2. Por que a história do nascimento de Cristo contada por Mateus é diferente daquela de Lucas?
Os dois evangelistas se dirigem a destinatários diferentes e tomam em consideração a mentalidade que eles têm. Além disso, essas narrações anunciam os grandes temas que serão tratados durante os dois evangelhos. Há muito tempo os exegetas notaram que um refrão aparece 5 vezes no Evangelho de Mateus: “quando Jesus disse essas palavras” (7,28; 11,1; 13,53; 19,1; 26,1). Esse refrão, considerado um elemento que dá forma ao evangelho, permite dividir o Evangelho em 5 partes. Não surpreende que a sua narração da infância seja também dividida em 5 cenas que começam com um genitivo absoluto: a genealogia, a concepção milagrosa, a fuga para o Egito, o massacre do inocentes e a volta do Egito. Cinco citações do Antigo Testamento aparecem na narração. Sabemos que o número cinco recorda os 5 livros da Torah. As cinco partes do evangelho foram acrescentadas as narrações da paixão-ressurreição e aquela da infância, de modo que pudessem formar um conjunto harmônico de 7 partes, uma grande Menorah. 
As 5 citações do Antigo Testamento nos dois primeiros capítulos de Mateus contém, todas elas, a palavra “filho”. A narração termina dizendo que a Sagrada Família foi morar na Galiléia. Brevemente, o que acontecerá durante todo o Evangelho é já presente nos primeiros capítulos: rejeitado pelos chefes do povo, Jesus vai à Galiléia dos gentios.
Nessas narrações é utilizado o simbolismo dos números. Na genealogia de Jesus, Lucas começa por Adão, enquanto que Mateus inicia com Abraão. Porém os estudiosos notaram que as inicias dos 3 nomes citados por Mt 1,1 recordam igualmente a Adão (Abraão, Davi e Messias). É a técnica judaica do notaricon, que Mateus usa. Mateus divide a sua genealogia em três grupos de 14 gerações e recorre ao valor numérico (ghematria) da palavra Davi, que é igual a 14. O total dos antecedentes de Jesus em 3 séries de 14 obriga Mateus a omitir 3 reis entre Jorão e Ozias, e a contar Jeconia como se fosse dois, pois a palavra grega pode traduzir ao mesmo tempo as palavras Joiaquim e Joiakim. 
Lucas, que não fala em números, conta de qualquer forma 77 descendentes na genealogia de Jesus, pois no mundo hebraico o 7 é o símbolo da perfeição. A profeta Ana alcançou esta perfeição, pois tem 84 anos (12 x 7). Além do mais, Lucas sublinha a cronologia da infância em 70 semanas. Entre a concepção de João Batista e a apresentação no Templo, é necessário acrescentar os 6 meses da gravidez de Isabel, os 9 meses da gravidez de Maria e os 40 dias depois do nascimento. O tema das 70 semanas recorda Daniel 9,24, que prevê nesse contexto a consagração do Messias em Jerusalém. Para os judeus acostumados às técnicas midráchicas, Jesus é o ungido de Deus, o Messias.

3. “Sendo Maria noiva”. O que representava o noivado para os judeus?
Até a idade de 12 anos e meio a menina dependia do pai. Podia ficar noiva e casar a partir dessa idade. O noivado regulava o acordo entre duas famílias que estavam ligadas ao pagamento de um presente, chamado mohar, feito pelo futuro marido da noiva. Esta não era ainda chamada esposa, mas o seu estado originário era modificado por este acordo prévio. A infidelidade era de qualquer forma punida também nesse caso, pois ia contra os direitos adquiridos.
O noivado de José e Maria e entendido nesse contexto. Maria é noiva de José. Ele não a tomou consigo, ou seja, Maria ainda não morava com José com ela se encontrou grávida. José pode desfazer o contrato e sonha fazê-lo em segredo, mas a aparição de um anjo faz com que ele mude de idéia.


4. Por que Maria colocou o seu filho em uma manjedoura?
O Evangelho de Lucas responde: “Por que não havia lugar para ela na sala comum”. Isso pode ser comentado assim: o lugar de alguém que estava para dar à luz não era na sala comum. Na tradição bíblica, quem dava à luz era impura por 40 dias se dela nascia um menino e por 80 dias se fosse uma menina. Além disso, a mulher transmitia a sua impureza aos outros. Por isso as mulheres que observavam a Lei preferiam retirar-se a um lugar discreto para não complicar a vida dos outros. A presença do burro e do boi na manjedoura explica a citação de Isaías 1,3: “o boi conhece o seu proprietário e o burro a manjedoura do seu senhor. Israel não sabe, o meu povo não entende”. O evangelho apócrifo do Pseudo Mateus lembra este versículo.


5. Jesus nasceu dia 25 de dezembro? Em que ano? Precisa ainda acreditar nos Reis Magos?
A data de 25 de dezembro para celebrar o nascimento de Jesus foi estabelecida no século IV. Quando se determinou essa data a intenção era aquela de tornar cristã a festa popular da invencibilidade do sol, que era celebrada no solstício de inverno. 
Jesus nasceu provavelmente no ano 6 antes da nossa era. O natal foi fixado no dia do solstício de inverno (no hemisfério norte), 25 de dezembro. A anunciação de Maria, invés, se celebra no dia do solstício de primavera (no hemisfério norte), 25 de março.
A Bíblia anuncia a aparição de uma estrela em um oráculo messiânico do livro dos Números (cap. 24). Os Salmos proclamam que os reis de Saba e Seba vão trazer ofertas. Nada exclui que alguns nabateus vieram do Oriente até Jerusalém. Para o histórico José Flávio, de fato eles tinham contatos em Jerusalém. A tradição posterior dirá que os reis magos eram 3.

6. O que significa a expressão “Maria, mãe de Deus”?
O Catequismo da Igreja Católica, no parágrafo 466, diz assim: “o Verbo, unindo a si mesmo hipostaticamente uma carne animada por uma alma racional, se fez homem. A humanidade de Cristo não tem outro objeto que não seja a Pessoa divina do Filho de Deus, que a assumiu e a fez sua no momento da concepção. Por isso o Concílio de Éfeso proclamou em 431 que Maria com toda verdade se tornou Mãe de Deus não por que a natureza do Verbo ou a sua divindade tivesse tido origem graças à santa Virgem, mas porque nasceu dela o santo corpo dotado de alma racional ao qual o Verbo é unido substancialmente.”
De fato aquele que Maria concebeu como homem por ação do Espírito e que se tornou Filho segundo a carne é o Filho eterno do Pai, a segunda pessoa da Trinidade. A Igreja confessa que Maria é a a Theotokos. Contestar que Maria seja a Mãe de Deus é negar a unidade pessoal e divina de Cristo e, contemporaneamente, a salvação dos homens.

Estudo de Luiz da Rosa

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