Seja Dizimista!

Seja Dizimista!

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

CONHEÇA UM POUCO MAIS SOBRE NOSSA HISTÓRIA

Copia da carta enviada pelo Cônego Pedro Soares de Freitas, então vigário de
Caraúbas, ao jornalista Elias Souto, redator do “MACAUENSE”, sobre a abolição
dos escravos, no mesmo município.

“- Caraúbas, trinta e um de Março de mil oitocentos oitenta e sete. – Amigo
e Compadre Elias Souto - O grande relógio do tempo marcou para mim a hora feliz
em que, levado pelo mais completo regosijo, posso dizer ao publico: - LIBERTOU-
SE A FREGUESIA DE CARAÚBAS!!! – Ao pronunciar estas doces e consoladoras
palavras, um rápido movimentom como que tocado do ether divino, pôe em oscilação
as minhas faculdades, e reunindo em si toda força do fluido elétrico, deixa-me extático,
comtemplando esse jubiloso acontecimento, em igual, no vasto Império da Santa
Cruz: não pelo simples facto de emancipar-se esta venturosa Parochia, e sim pelo
modo novo e singular adoptado, na realisação da problemática idéia de libertar-se este
município, sem dinheiro nem associações,sem violência nem ameaças, sem esforços
nem estrépitos, sem promessas nem illusões, sem tricas, nem siquer um pedido formal.

Uma libertação em circustancias tais seria um impossível, uma cousa nunca
vista em nossopaiz; seria um sonho, uma chimera, se não fora uma gloria reservada a
Caraúbas somente, na solução desse intrincado problema; solução que hontem aos olhos
de todos se manifestou, riscando-se o nome escravo nas Collectorias desta Villa.

Libertas estão as Províncias do Amazonas e Ceará; livre se acha o município
de Mossoró; o systema porem seguido por todos esses lugares, no emprehendimento
de tão alta tarefa, foi em tudo differente do methodo, para o mesmo fim estabelecido
por Caraúbas, d’onde resulta o inestimável valor de seu triumpho. As sociedades
libertadoras têm figurado como mola principal de todos esses movimentos da
proclamada emancipação; Caraúbas, porem a isso moveu-se por outro principio, o mais
conveniente e de salutares effeitos, o principio religioso, aperfeiçoado no espírito de
meus Parochianos.

Quando nesta Freguesia, a imitação de outras localidades, alguém pretendeu
instituir uma sociedade emancipadora, eu me oppuz a este pensamento, dizendo que
Caraúbas havia libertar-se por um caminho desconhecido; e que a referida associação
veria pertubar a ordem, prevenir os ânimos, e criar insuperáveis difficuldades; e
ao mesmo tempo que assim me pronunciava, garantia a todos, que os Caraubenses
acompanhavão o movimento abolicionista; e quando os municípios da Imperatriz,
Triumpho, Assú, Natal, e outros associados soltassem o grito de inteira liberdade,
Caraúbas a seu lado se apresentaria em idênticas circunstancias; e meu Amigo por certo
se recordará, que essa textual declaração lhe fiz aos vinte e cinco de Junho de oitenta
e cinco na Cidade do Assú em casa de sua residência, perante algumas pessoas, entre
ellas o meu Compadre Elias Cardoso de Souza, que considerou irrealizável a minha
enigmática pretenção; não me admirando essa estranhesa a meu arrojado projecto, por
quanto eu mesmo a teria como irrizoria, se não visse firmado sobre os inconcursos
fundamentos da Religião Christã.

Se eu assim fallava era por que, sendo Vigário, há vinte e tantos annos, bem
conhecia a índole de meus Fregueses, sempre dispostos a esses rasgos de philantropia e
verdadeira Caridade, que só encontrão-se na Doutrina da Montanha; e se não combinei
na projectada sociedade, foi por existir entre elles uma associação mais poderosa –
a Unidade de pensamento e a fôrça de vontade – vinculados por esses sentimentos
religiosos, que conduzem os discípulos do Calvário ao heroísmo despresando os

interesses pessoais, em prol do bem comum, à semelhança do Divino Mestre, que
sacrificou a própria vida pela redenpção do gênero humano. Só na religião do Deus,
três veses Santo, podia-se obter a pacifica abolição de Caraúbas; e assim foi que aos
vinte e nove do mesmo Junho, quatro dias depois de nossa mencionada conferencia
se verificou o meu vaticínio, em quarenta e duas libertações, com que alguns de meus
Parochianos comemorarão o Príncipe dos Apóstolos; servindo isso de estimulo e
base à extincção do elemento sevil nesta Freguesia; sendo bonito e admirável o modo
espontâneo e pressuroso, com que no altar da liberdade depositarão seus escravos,
directa e indirectamente, todos os Senhores, exceptuando-se dous, que em punição a
desmandos de seus captivos, não efectuarão sua libertação por titulo, e sim pela falta da
nova matricula.

Rápidos e brandos são os effeitos da Religião Catholica; por isso não é muito
achar-se livre o Município de Caraúbas, estando ainda os de Natal, Assú, Triumpho e
Maioridade empenhados na luta; e por isso mesmo em Caraúbas não se observão os
contrariedades, desgostos e arrependimentos, que abundão nas Freguesias emancipadas
por associações; acontecendo pelo contrario, confundir-se a luz da aurora de hoje com
a claridade dos fogos, que de todas as ruas desta Villa subião ao denso ar, manifestando
o jubilo e enthusiasmo dos Caraubenses pela maravilhosa libertação de sua idolatrada
Parochia; donde se conclue ser a religião o único farol, que esclarece o homem,
dirigindo-o com segurança em todos os atos da vida.

Comunicando-lhe eu mesmo a libertação de minha Freguesia, e desejando não
calar os que para Ella concorerão, incluso lhe remeto uma lista dos nomes dos ex-
Senhores, e o numero de noventa e seis libertos em virtude da referida comemoração,
omittindo as muitas alforrias gratuitas, que anteriormente aqui forão concedidas; e se
benigno acolher estas toscas linhas, fazendo dellas e da mencionada relação o uso que
lhe aprouver, dando-lhes publicidade, ou depositando-as no Archivo do esquecimento,
assas penhorado lhe ficará o Compadre affectuoso, Amigo sincero e obrigadíssimo
Padre PEDRO SOARES DE FREITAS.”

NOTA: Copiada fielmente do meu arquivo particular, em 17 de Novembro
de 1969.

Raimundo Soares de Brito.

Digitado por Antonio Gomes de Sales

Caraúbas-RN, 11 de Fevereiro de 2010.

Nenhum comentário:

Postar um comentário