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quinta-feira, 14 de abril de 2011

Leigos: “gigante adormecido” da Igreja


Entrevista com o professor Luis Navarro


ROMA, quinta-feira, 14 de abril de 2011. O futuro da Igreja depende de um despertar de seu "gigante adormecido", os leigos, segundo constatou um congresso organizado entre 7 e 8 de abril, em Roma, pela Faculdade de Direito Canônico da Pontifícia Universidade da Santa Cruz, com o título "O fiel leigo: realidade e perspectiva".

Neste contexto, foi entrevistado o decano desta faculdade e presidente do comitê organizador do encontro, professor Luis Navarro.

Por que um congresso sobre os leigos?

Professor Luis Navarro: Como em muitos lugares, torna-se evidente o impulso do Concílio Vaticano II sobre o papel dos leigos como fiéis envolvidos na realidade secular, chamados à santidade e partícipes da missão da Igreja em primeira pessoa, para revitalizar um mundo que está em um beco sem saída. Novamente se atualiza a expressão de um padre sinodal sobre a vocação e missão dos leigos na Igreja e no mundo, que definia o conjunto dos leigos como um "gigante adormecido". Trata-se, sem ir mais longe, de mais de 95% do povo de Deus, inúmeras pessoas batizadas que vivem diferentes graus de pertença e de adesão, de participação e corresponsabilidade na vida da Igreja. São, hoje, mais de 100 milhões, 17% da população mundial. É um número impressionante e, apesar disso, é evidente que há um longo caminho a percorrer para levar a cumprimento a vocação dos cristãos em meio aos seus concidadãos ao redor do mundo.

É possível, portanto, fiar-se dos leigos? Podemos, inclusive, confiar neles para que levem adiante a missão da Igreja?

Professor Luis Navarro: A pergunta é complicada, porque pressupõe que alguém (não leigo) pede responsabilidades a outros; alguém que é o "verdadeiro responsável", que confia aos leigos uma determinada tarefa. Esta não é a perspectiva do Concílio. Nas mudanças na teologia dos leigos, que foram discutidas no nosso congresso, certamente foi difícil superar esquemas desse tipo, com o resultado de que se suavizou o sentido da missão dos leigos. O Concílio Vaticano II não fez uma escolha política ou sociológica, e sim afirmou uma percepção teológica do que é o leigo e a que está chamado: um batizado que segue Cristo a partir da sua vocação humana, cheia de responsabilidades e desafios seculares que constituem o lugar onde se imita o Senhor e onde se convida os outros a segui-lo.

Como se pode conciliar esta responsabilidade pessoal com a variedade de novas realidades ou movimentos e grupos que se dirigem aos leigos? Um leigo que não pertence a estas realidades pode levar à plenitude o seu "ser "leigo"?

Professor Luis Navarro: O interesse do nosso congresso também se concentrou em ouvir os representantes de algumas destas realidades, porque o seu carisma de origem faz referência à condição batismal como tal. A riqueza que essas realidades trouxeram à Igreja deve ser retomada em sua raiz, isto é, o fato puro e simples de que ser batizado traz uma grande alegria e também uma grande responsabilidade. Além disso, eu acrescentaria, do ponto de vista jurídico, que estas realidades também trouxeram expressões de criatividade em um nível organizacional, que devem ser estudadas, porque têm transformado alguns padrões que pareciam imutáveis.

Do leigo se fala em todos os lugares e, por vezes, de forma repetitiva. Será que o discurso eclesial está um pouco desgastado e que talvez seja preciso refletir diretamente sobre as necessidades da sociedade no mundo?

Professor Luis Navarro: Sua pergunta atinge o alvo se estiver fazendo referência ao fato de que o leigo tem, como interesse primário, e precisamente pela força da sua vocação, que deve ao mesmo tempo encontrar e transmitir Cristo na vida diária e nas aspirações de um mundo mais justo. Seria errado supor que isso pode ser assumido à margem da Revelação cristã e, portanto, da sua expressão no magistério, especialmente na área social: o grande desafio é que os leigos o façam em primeira pessoa, a partir da própria responsabilidade entre os homens, cidadãos como eles. Portanto, estamos confiantes de que do congresso surgirá a ideia de que, para "configurar" o mundo de acordo com a verdade cristã, o leigo deve, antes de tudo, "formar" a própria consciência, para agir em plena liberdade e com plena iniciativa. O núcleo é a ação livre dos fiéis leigos.

Um leigo bem formado e consciente dos seus próprios deveres na sociedade é "luz para o mundo".

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