Homilia da sexta
feira 21º Semana do tempo comum
Marcilio Oliveira da
Silva[1]
O texto do evangelho de hoje está
inserido no ultimo grande discurso estruturado por Mateus: O sermão escatológico. Logo, a parábola contada por Jesus trás como
temática a Parusia (a vindo do filho do Homem nos últimos dias). Mateus, aliás,
foi o único dos evangelistas a utilizar este termo para designar a vinda do
Filho do homem. Os últimos sermões de Jesus são como que a apresentação dos
critérios com que o próprio Cristo presidirá o Juízo final. Como sabemos, o
texto escrito por este apóstolo foi direcionado para os cristãos que se haviam
convertido do judaísmo e que naquele contexto de época sofriam grande pressão
das classes judaicas que haviam sido reformuladas após o concilio de Jãmnia
(que ocorreu após a queda do templo de Jerusalém).
A parábola
das Dez virgens é bem conhecida de todos nós, está repleta de mensagens e
imagens com grande valor para a vida do cristão. Uma delas nos fala da
prontidão e vigilância que os seguidores de Jesus precisam ter, pois, como nos
diz no final do trecho: “não sabeis o dia nem a hora” que o noivo chegará.
Podemos destacar outras imagens como o do Esposo que evidentemente é o Senhor,
o tempo de espera, que é aquele em que devemos manter acessas as nossas
lâmpadas da fé, da esperança e da caridade, é aquele antes da vinda final de
Jesus. O texto, no contexto em que se insere, tem uma finalidade exortativa e
procura transmitir esperança para os cristãos que estão a espera do salvador
que havia acabado de ascender aos céus.
Porém, neste
texto, gostaria de destacar a figura das dez virgens. Chama-nos a atenção o
aparato que elas possuem: Lâmpadas, e a
vasilha com o óleo. Isto nos faz lembrar que o Senhor já dispôs para nós
tudo aquilo que precisamos ter para que quando sua vinda acontecer estejamos
prontos. Percebam que no inicio do texto as dez virgens estavam com as lâmpadas
e o óleo nas mãos, porém, o evangelista faz questão de nos mostrar que do grupo
havia cinco delas que eram descuidadas (segundo a tradução da CNBB), enquanto
as demais eram precavidas e levaram o seu vasilhame de óleo que garantiria que
a chama da lâmpada não se apagasse.
De fato,
Cristo já nos cumulou com aquilo que nos basta para participarmos com ele das
núpcias finais. A figura das virgens imprevidentes é o retrato de que
precisamos ser zelosos com a nossa vocação. É nela que Deus acende a sua luz
para que brilhe aos homens como sinal da sua presença. Isto acontece por meio
do Espírito Santo, que é sustento da Igreja. Não podemos deixar a luz de Cristo
apagar-se na lâmpada do nosso coração. Para isso, temos o Espírito Santo, não
podemos esquecê-lo! Recordemo-nos da promessa do paráclito que foi enviado para
nos garantir que a luz de Cristo em nós jamais se apagará.
A primeira
leitura vai complementar tudo isto. Percebam que são Paulo recomenda à
comunidade de Tessalônica a conservação de todas as instruções que foram
transmitidas pelos Apóstolos. Ele frisa a importância de se manter vivo todos
os valores evangélicos que aquela comunidade apreendeu. São Paulo recomenda aos
tessalonicenses o zelo por aquilo que o coração daqueles homens e mulheres
guardavam em si. Somente os valores do Evangelho é que nos asseguram viver o
banquete do Reino. Portanto, a liturgia de hoje é motivo para nos alegrar,
pois, já estamos em punho com os elementos que nos garantem participar do Reino
prometido pelo Senhor.
Contudo, nossa atenção deverá estar
voltada para que não desperdicemos a dádiva que já nos foi conferida por Jesus.
A graça já nos foi dada, embora não sejamos merecedores de nada disso. Mas, o
próprio Deus nos enfeitou, convidou e nos espera para entrarmos com ele na
festa eterna do reino. FALAR DO ANTIGO RITUAL DAS NÚPCIAS NA TRADIÇÃO JUDAICA.
Enquanto
estamos neste mundo é nosso dever sermos cuidadosos como as virgens cuidadosas.
A vocação que está em cada um é um dom, é um presente de Deus. Não podemos
perdê-la, nem esquecê-la. Temos um roteiro em mãos, como se fosse um ingresso
que nos orienta a viver uma vida inserida na vontade de Deus.
O Evangelho de hoje poderia nos
assustar pelo teor da expressão que Jesus usa e pelo seu caráter escatológico:
“Em verdade vos digo; não vos conheço”. Jesus assim se expressou após ouvir o
pedido das imprudentes para que ele abrisse a porta, uma vez que as descuidadas
não estavam presentes ou preparadas para entrar na festa quando o noivo chegou.
Porém, nesta perspectiva, devemos é nos alegrar, pois, como o mesmo texto nos
diz: “O noivo está chegando. Ide acolhê-lo”. Se somos descuidados com a nossa
vida, com a nossa vocação, com a nossa fé, com a nossa caridade, com a nossa
vida espiritual, com a vida comunitária, intelectual, pastoral, afetiva e
humana é possível nos tornarmos cuidadosos. Ainda há tempo para buscarmos aquilo
que alimenta tudo isto, já que ao nosso dispor existem elementos que nos ajudam
a crescer, como pessoas, como homens, como cristãos e como seminaristas. O aparato
está ao nosso alcance. É possível mudarmos e de imprevidentes nos tornarmos
previdentes.
Somos convocados pelo Pai a oferecer
a nossa vida para que o mundo conheça o amor eterno que vem de Deus. Deixamos
nossas casas, sonhos, projetos, famílias, valores, para servirmos aos irmãos, a
Cristo e a sua Santa Igreja. Queremos ser sacerdotes, guias de muitos que estão
no descuido com aquilo que lhes foi dado para entrarem no banquete festivo.
O sentimento de vigilância e
prontidão perpassa nossa vida, sempre! Ele inflama quando visitamos as
comunidades nas atividades dos finais de semana. Em meio a tantas realidades que
nos aparecem brota em nós o desejo de orientar os desorientados e de prevenir
os desprevenidos. Queremos exercer o papel daquele que gritou: “o noivo está
chegando. Ide acolhê-lo”! Exerceremos, assim, o papel de guias de um rebanho. O
que nos assegura esse papel que queremos viver é o próprio Espírito Santo, que
nos orienta e nos orienta a orientar aqueles que querem participar da festa do
Reino eterno.
A verdade é que nossas experiências pastorais
nos mostram que em nós as pessoas enxergam uma referência, um Cristo. Certamente
o que veem é a luz (que é Cristo) da lâmpada da vocação que carregamos. Luz que
clareia as trevas, que traz esperança aonde esta se perdeu, a mesma que
alimenta o coração atribulado e aflito. Ainda é tempo para abastecemos a nossa
fé, nossa identidade vocacional com a divina chama que o próprio Jesus acendeu:
O Espírito Santo que ele mesmo enviou até nós. Que está aqui! O dia já nasceu,
estamos respirando, podemos ainda, agora, suplicar ao Senhor a prudência que
tantas vezes nos fez comprometer a nossa fé, o amor que temos e a esperança que
existe em nós.
Lembremos que nesta festa eterna, da união
definitiva de Cristo com a sua Igreja, o noivo deu a sua amada esposa (a
Igreja) todos os elementos para que estivesse pronta quando este chegasse. Como
Igreja, estamos a esperar o Senhor voltar, mas esta espera deverá ser em clima
de alegria, pois, somos os convivas desta certeza. Recebemos aquilo que nos
assegura participar deste Reino. Não somos penetras de uma festa, mas, os
autênticos convidados, ou seja, aqueles a quem foi pedido estar ao lado do
noivo quando este assim chegar.
E no contexto de abraçar a vocação
sacerdotal, nossa alegria deverá ser ainda maior, pois, temos uma função
especial que é de conduzir e orientar, através da nossa vocação, todos aqueles
que desejam conhecer o Cristo, pois, ele se fará pessoa em cada um de nós.
[1] Marcilio
é graduado em Filosofia pela Universidade do Estado do Rio Grande do Norte,
estudante do segundo Período de Teologia da Faculdade Diocesana de Mossoró e
Seminarista do Seminário Santa Terezinha de Mossoró. Atualmente presta serviços
pastorais na Paróquia de São Sebastião de Caraúbas/RN.
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