Nossa Igreja nos chama a educar para o diálogo ecumênico. Não é algo opcional, que dependa de nossas preferências pessoais, faz parte do trabalho que a Igreja espera de nós. O Concílio Vaticano II, que estamos rememorando neste “Ano da fé” , já havia dito:
Devem ser feitos todos os esforços para eliminar palavras, juízos e ações que, segundo a equidade e a verdade, não correspondem à condição dos irmãos separados e, por isso, tornam mais difíceis as relações com eles.UR 4
Esse tipo de palavras, juízos e ações permanecem entre nós porque, estando separados, nos defendemos uns dos outros alimentando preconceitos que teriam se desmanchado se tivéssemos outro tipo de relacionamento. Lembro que uma vez fui convidada por um amigo pastor a fazer uma pregação no culto de uma igreja presbiteriana. Fui apresentada à comunidade antes do culto sem que soubessem o que eu ia fazer. Uma senhora, querendo ser simpática, me abraçou e disse que estava muito feliz de me ver ali porque os católicos, como todo mundo sabe, não conhecem a Bíblia e eu ia poder aprender com eles. Quando o pastor me apresentou, após a leitura do evangelho, como alguém que dava cursos sobre a Bíblia e que iria ajudá-los a refletir sobre a Palavra, ela ficou desconcertada, sem coragem de me olhar. Depois conversamos e esclarecemos o mal entendido. Mas isso só foi possível porque eu já tinha um bom relacionamento com o pastor e aproveitei também para elogiar coisas boas que aquela comunidade realizava. Há muito tempo eu havia aprendido, por experiência, que o elogio é a melhor ferramenta de desarmamento que podemos usar. Fiquei pensando que nós também temos idéias preconcebidas sobre muitos comportamentos dos irmãos de outras Igrejas e que muita má vontade poderia ser vencida se nos aproximássemos uns dos outros com vontade de descobrir e valorizar o que o outro tem de bom.
Mas há quem tenha medo e queira se preparar para o ataque como forma de defesa. Aí eu me lembro de uma parábola, que é assim:
Dois irmãos estavam brigados há muito tempo e moravam em terras vizinhas, separadas por um rio. Com medo que o irmão invadisse sua fazenda, o mais velho contratou um operário para fazer uma cerca junto ao rio. Não se sabe se o operário entendeu mal a ordem ou fez de propósito, mas ele construiu uma ponte em vez de fazer a cerca. O patrão, indignado, foi para a beira do rio ver como conseguiria consertar tal estrago. E lá encontrou o irmão que, emocionado, lhe disse: _Faz tempo que queria fazer as pazes, mas tinha medo de tentar. Ainda bem que você tomou a iniciativa...
Muitas vezes temos medo de construir as pontes porque achamos que isso nos coloca em posição vulnerável se o outro quiser nos invadir, nos conquistar para o seu lado. Por isso, a catequese tem que preparar muito bem os católicos, para que amem, conheçam e valorizem a sua Igreja também vendo nela, como grande qualidade, o incentivo a uma postura ecumênica. O desarmamento tem que começar antes do diálogo e tem que estar apoiado numa boa formação. Guerra produz mais guerra e não nos deixa com toda a energia de que precisamos para anunciar o evangelho. Sem medo, estaremos mais preparados para mostrar a beleza da nossa identidade de fé. E, se queremos mesmo ser bons católicos, temos que ouvir e seguir o que a Igreja nos pede. Pensando nisso, podemos lembrar dois trechos da encíclica Ut Unum Sint, de João Paulo II:
O ecumenismo, o movimento a favor da unidade dos cristãos, não é só uma espécie de apêndice, que vem se juntar á atividade tradicional da Igreja. Pelo contrário, pertence organicamente à sua vida e ação, devendo, por conseguinte, permeá-la no seu todo e ser como o fruto de uma árvore que cresce sadia e viçosa até alcançar seu pleno desenvolvimento. UUS 20
O ecumenismo não é apenas uma questão interna das comunidades cristãs, mas diz respeito ao amor que Deus, em Cristo Jesus, destina ao conjunto da humanidade; e obstaculizar este amor é uma ofensa a ele e ao seu desígnio de reunir todos em Cristo. UUS 99
Therezinha Cruz
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